quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Lembra-te

TAMBÉM DO TEU CRIADOR NOS DIAS DA TUA MOCIDADE: CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO DE ECLESIASTES

                                Eduviges Rogerio de Souza, MI, 33º  

Membro da ACADESUL, Cadeira 23


 Eclesiastes é um dos livros sapienciais do Antigo Testamento, que dá conselhos sobre a vida, reflexões sobre os problemas e seu significado. Da mesma categoria são , Provérbios e alguns Salmos.

Foi escrito por Salomão já idoso, ao redor de 980 a.C.. O autor, se apresenta como "filho de David, rei em Jerusalém"  

Forma literária onde um personagem relata suas experiências e delas tira lições, pode ter sido influenciada pela filosofia grega, especificamente pelo estoicismo, (o destino de todas as coisas estava dado), e pelo epicurismo, (a felicidade podia ser alcançada pela apreciação tranquila dos prazeres simples da vida). 

Eclesiastes é uma tradução grega do termo hebraico Kohelet, que é tradicionalmente traduzido como "professor" ou "pregador" nas traduções da Bíblia em português. É como o protagonista se refere a si mesmo.

Ao longo dos 12 capítulos as histórias mostram a efemeridade da vida terrena, que é passageira, e tudo o que aqui conquistamos e vivenciamos, será um dia esquecido.

Já no Capítulo 1 encontramos as expressões:

3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, (...)?

4 Uma geração vai, e outra geração vem, porém a terra para sempre permanece

9 O que foi, é o que há de ser; e o que se fez, se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.

O LIvro ensina que a sabedoria é o meio para uma vida bem vivida, pois, mesmo nos atos menos importantes, o ser humano deve aproveitar os prazeres simples da vida, pois comer, beber, se orgulhar de seu trabalho, são presentes do GADU.

Nos diz que a história e a natureza se movem em ciclos. O sábio e o ignorante, irão morrer e serão esquecidos, por isso o homem deve aproveitar as dádivas que o GADU nos dá. 

A presença de Eclesiastes na Bíblia é curiosa, pois os temas como “um Deus que revela e redime”, ou que “escolhe e cuida do seu povo”, estão ausentes, passando a impressão de que Kohelet (Salomão) teria perdido sua fé com o passar dos anos.

Os temas como a dor e a frustração são analisadas pela observação e meditação sobre as distorções e desigualdades do mundo, a utilidade dos atos humanos e as limitações da sabedoria e da retidão.

Algumas passagens de Eclesiastes parecem contradizer outras do própro Livro e do Antigo Testamento. Para resolver essas contradições sugere-se ler o livro como um registro da missão de Salomão: os julgamentos do texto são provisórios e é apenas na conclusão que o veredito final é declarado (caps. 11 a 12:7).

Fatos Científicos em Eclesiastes

Há duas passagens em Eclesiastes que remetem ao ciclo da água:  Eclesiastes 1:7 : ''Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr''. 

Eclesiastes 11:3 cita o ciclo hidrológico mais claramente: ''Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra”. O ciclo hidrológico só foi compreendido no século 17.

Eclesiastes 1:6 fala das leis meteorológicas, explicando o movimento do vento pela terra ''“O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando, e volta fazendo os seus circuitos”. 

Influência na literatura ocidental

Eclesiastes teve uma profunda influência na literatura ocidental. O novelista americano Thomas Wolfe nos diz que “aquele livro parece-me ser o mais nobre, o mais sábio e a mais poderosa expressão da vida do homem sobre a terra — e também a maior das flores da poesia, eloquência e verdade.” 

Machado de Assis, grande leitor do Eclesiastes, sofreu influencia dele na sua obra, como por exemplo, Memórias Póstumas de Brás Cubas,  epopéia da tolice humana, a sátira da nossa ilusão, feita por um defunto completamente desenganado de tudo.  A vida é boa, mas com a condição de não a levarmoss muito a sério. 

 O Livro da Lei no REAA e Eclesiastes

O Capítulo 12 é o que nos interessa particularmente. Salomão já idoso, encerra suas conclusões sobre a vida. 

Nos capítulos anteriores vemos alguém experiente falando sobre tudo o que a sua alma pôde perceber. No Capítulo final, ele nos aconselha a buscar o GADU enquanto ainda podemos, antes que chegue a morte e não tenhamos essa oportunidade.

São lidos no momento de Abertura do Livro da Lei, no REAA, Gr. de Mestre. tradicionalmente, os Versículos 1 e 7. 

"12:1 Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento;

12:7 E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.

Para a perfeita a compreensão da Leitura, é necessário nos reportarmos aos versículos 1 a 8, onde, claramente, Salomão nos alerta para a brevidade e inconstância da vida.

"12:1 Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento;

12:2 Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva;

12:3 No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas;

12:4 E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.

12:5 Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça;

12:6 Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,

12:7 E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.

12:8 Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.

 

PASSAMOS À ANÁLISE DOS VERSÍCULOS:

"12:1 Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: não tenho neles contentamento

Salomão quer nos dizer que é na mocidade que a força e a resistência são maiores. Salomão nos aconselha a usar a energia a serviço do GADU. Ele contrasta a mocidade com a velhice. Quando envelhecemos, a força diminui. Fazemos menos, mas as dores aumentam. Os desejos e esperanças da mocidade já passaram. É frustrante perder o vigor que tínhamos, especialmente com a sabedoria acumulada ao longo da vida.

 

12:2 Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva;

As fontes de luz “o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas” é o chegar da idade e os olhos não podem contemplar as maravilhas da criação. As imagens verbais nos fazem imaginar o que acontece quando a visão começa a enfraquecer.

Os versículos 3-6 listam as enfermidades que vão nos acometendo à medida que envelhecemos:

12.3  No dia em que tremerem os guardas da casa, e se curvarem os homens fortes, e cessarem os moedores por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas;

A casa representa o corpo que envelhece, e os guardas são os braços e as pernas que se curvam pela fragilidade, e não se confia na sustentação dos joelhos.

A expressão cessarem os moedores alude aos dentes, cada vez mais raros e fracos, não conseguem mais mastigar a comida como antes.

Por fim, quando se escurecerem os que olham pelas janelas, novamente é referencia aos olhos quando se começa a perder a visão.

12:4 E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as vozes da música se abaterem.

As portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, nos fala da boca e das cordas vocais que, com a idade, perdem a força, e a voz pode perder o timbre e enfraquecer.

O “baixo ruído da moedura” ilustra o pouco ou nenhum barulho feito ao mastigar alimentos, depois da perda ou do enfraquecimento dos dentes.

 “E se levantar à voz das aves”, significa ter menos sono e acordar cedo conforme envelhecemos. 

“E todas as vozes da música se abaterem” é uma referência às cordas vocais e também a audição e a incapacidade de nos deleitarmos com a música.

12:5 Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça;

A frase “temerem o que está no alto” se reporta as coisas banais do cotidiano que passaram a ser ameaçadoras. 

O “florescer a amendoeira”, é o branquear o cabelo.

Quando o gafanhoto for um peso se refere ao passo claudicante do idoso que caminha apoiado em uma bengala.

Quanto ao ato de perecer o apetite, é entendido como a diminuição do desejo sexual. 

E vem à morte e o pranto, com a ida para a casa eterna.

12:6 Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,

O cordão de prata, o copo de ouro, o cântaro e a roda simbolizam a preciosidade e da fragilidade de toda a vida.

O cordão de prata se refere à coluna vertebral. O copo de ouro, ao cérebro.

O despedaçar do cântaro junto a fonte é uma alusão a um coração falho.

O sistema de veias e artérias que se difundem a partir do coração pode ter parecido as traves de uma roda, por isso a frase “se quebre a roda junto ao poço”.

12:7 E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.

As palavras que claramente se referem ao destino único de todos os homens, e o espírito voltará a Deus que o deu, em alusão a Genesis

 12:8 Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.

Como a Maçonaria nos ensina, o espírito prevalece sobre a matéria. Excluindo este esforço, este combate pela prevalência do espírito sobre a matéria, tudo é vaidade, nada mais que vaidade, tudo é vazio, tudo e fugaz. Como diz o Rei Salomão.

         Meus Irmãos: 

A leitura desse trecho do Livro da Lei na abertura dos trabalhos, tem o intuito de nos alertar e nos lembrar de conceitos expostos em outros graus, expondo quão incerto é nosso futuro, sendo fundamental desfrutar e viver corretamente o presente.

O Livro de Eclesiastes nos remete à Câmara de Reflexões, onde vemos  “se queres bem empregar a vida, pensa na morte” (Ritual, 1o. grau pág 195), ou à Taça Sagrada, quando o candidato é orientado que o “homem sábio e justo deve gozar os prazeres da vida com moderação”(Ritual 1º grau, pág 216).

Eclesiastes também faz o Mestre Maçom realizar uma análise filosófica do Tempo, desmembrando a noção de tempo, como se lê em “Confissões”, Agostinho de Hiponna, que argumenta: como o futuro ainda não existe e o passado já deixou de existir, nosso foco deve ser no presente, no momento em que vivemos. 

Para finalizar, lembro de algumas reflexões dirigidas a alguns Irmãos, trazendo o pensamento do Ir:.Márcio dos Santos Gomes, membro da Academia Mineira Maçônica de Letras.

 Alguns Irmãos sentem que, irremediavelmente chegamos a um momento da vida maçônica em que a deficiência da força e do vigor da juventude colhe suas consequências. Já não somos requisitados e as contribuições até então realizadas, às vezes, deixam de ser reconhecidas. No nosso entorno, as coisas começam a ficar diferentes.

Já não vemos mais aqueles diletos irmãos que valorizavam a nos acompanhavam e se empenharam na senda maçônica e, hoje, repousam no Oriente Eterno.

Novos irmãos, novas energias. Os valores, os fundamentos, continuam os mesmos, mas com novas roupagens e leituras mais “atualizadas”. 

É claro que a idade costuma comprometer capacidades cognitivas como memória e aprendizagem. 

Mas outras áreas compensam: experiência, conhecimento, liderança, colaboração, comunicação oral e escrita refinada.

Podemos ser mais lentos ao lidar com telas, dispositivos eletrônicos e redes sociais. Estar conectado tem outro sentido. Ser controlado por um algoritmo é assustador.  Linkedin? Meu Deus!!!

Porém, vivências podem viabilizar soluções e contornar os riscos. Não se pode avaliar competências e capacidade pelos aniversários acumulados. Temos convicção de que tempo de vida e na Ordem Maçônica não põe mesa, a travessia sim. 

Agora é o momento de colher o que plantamos junto aos nossos familiares e amigos, aqueles a quem tornamos felizes durante nossa caminhada.

É preciso que fique bem claro: idoso é aquele que tem muitos anos e velho aquele que acha que sabe tudo.

Então, meus Irmãos, nada de dramas, lamúrias ou rabugice. 

O que importa é uma vivência que nos permita reconhecer e valorizar nossos acertos, e aprendermos, ainda, com os erros cometidos. O prazer é olhar para trás e contemplar o caminho que edificamos.

Assim, poderemos vislumbrar que agora é o momento de colher o que plantamos durante nossa caminhada. Precisamos ter clareza de propósitos para encarar esse estágio onde o futuro talvez não seja mesmo onde pensamos que estamos.

Diz o (Talmude)

“Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida; para o sábio, é a época da colheita” 

Bibliografia:

 

1.      AgostinhoA Cidade de Deus The Book XX. Accessed 2015-06-28.

2.      São JerônimoComentário sobre Eclesiastes.

3.      São Tomás de AquinoSumma Theologica.

4.      Eliane Fernanda Cunha Ferreira. "O Livro de Cabeceira de Machado de Assis: O Eclesiastes". Acesso: 9 de agosto, 2010.

5.      LIRA, Jorge Buarque – “As vigas mestras da Maçonaria” – Editora Aurora Ltda – 3a Edição – 1968 – págs. 213 a 218. 

6.      CORTEZ, Joaquim Roberto Pinto – “A Simbologia na Maçonaria”- artigo – Revista “A TROLHA”- No 141 - Ano XXVIII – Junho de 1998 – págs. 30 a 32. . 

7.      BELZ, Rodolpho – “Quando Tudo Falha...” - Editora Adventista Casa Publicadora Brasileira, 8a Edição – 1984 – Santo André – São Paulo – SP – págs. 111 e 112. 

8.      NOVO TESTAMENTO VIVO - "O mais importante é o Amor" - Liga Bíblica Mundial - 1991 - Editora Mundo Cristão - SP. 

9.      A BÍBLIA SAGRADA - Tradução de João Ferreira de Almeida – Editora Imprensa Bíblica Brasileira - 1976 - RJ. Denizart Silveira de Oliveira Filho Loja Igualdade No 93 - GLMERJ

10.  Ricardo Cesar Martins CIM 269.775 24 de setembro de 2017 E.V

11.  https://reinaldotrabalhosmaconicos.wordpress.com/2017/06/15/camara-de-reflexao-2/

12.  https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2013/04/eclesiastes-12-significado-explicacao.html

13.  https://www.jesuseabiblia.com/biblia-de-estudo-online/eclesiastes-12-estudo/

14.  http://systri.com.br/blog/maconaria-2/maconaria-e-o-livro-de-eclesiastes/Honório Sampaio Menezes, 33º, REAA, Loja Baden-Powell 185, GLMERGS, Porto Alegre, RS, Brasil.

15.  https://focoartereal.blogspot.com/2020/08/conjecturas-de-um-macom-idoso.html/Márcio dos Santos Gomes/ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG,

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