TAMBÉM DO TEU CRIADOR NOS DIAS DA TUA
MOCIDADE: CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO DE ECLESIASTES
Eduviges
Rogerio de Souza, MI, 33º
Membro da ACADESUL, Cadeira 23
Eclesiastes é um dos livros sapienciais do Antigo Testamento, que dá conselhos sobre a vida, reflexões sobre os
problemas e seu significado. Da mesma categoria são Jó, Provérbios e alguns Salmos.
Foi escrito por Salomão já idoso, ao redor de 980 a.C.. O autor, se apresenta como
"filho de David, rei em Jerusalém"
Forma literária onde um personagem relata suas experiências e delas tira
lições, pode ter sido influenciada pela filosofia
grega, especificamente pelo estoicismo, (o destino de todas as coisas estava dado), e pelo epicurismo, (a felicidade podia ser alcançada pela apreciação
tranquila dos prazeres simples da vida).
Eclesiastes é uma tradução grega do termo hebraico Kohelet, que é
tradicionalmente traduzido como "professor" ou "pregador"
nas traduções da Bíblia em português. É como o
protagonista se refere a si mesmo.
Ao longo dos 12 capítulos as histórias mostram a efemeridade da vida
terrena, que é passageira, e tudo o que aqui conquistamos e vivenciamos,
será um dia esquecido.
Já no Capítulo 1 encontramos as expressões:
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, (...)?
4 Uma geração vai, e outra geração vem, porém a terra para sempre permanece
9 O que foi, é o que há de ser; e o que se fez, se fará; de modo que
nada há de novo debaixo do sol.
O LIvro ensina que a sabedoria é o meio para uma vida bem vivida,
pois, mesmo nos atos menos importantes, o ser humano deve aproveitar os
prazeres simples da vida, pois comer, beber, se orgulhar de seu trabalho, são
presentes do GADU.
Nos diz que a história e a natureza se movem em ciclos. O sábio e o
ignorante, irão morrer e serão esquecidos, por isso o homem deve aproveitar as
dádivas que o GADU nos dá.
A presença de Eclesiastes na Bíblia é curiosa, pois os temas como “um
Deus que revela e redime”, ou que “escolhe e cuida do seu povo”, estão
ausentes, passando a impressão de que Kohelet (Salomão) teria perdido
sua fé com o passar dos anos.
Os temas como a dor e a frustração são analisadas pela observação
e meditação sobre as distorções e desigualdades do mundo, a utilidade dos
atos humanos e as limitações da sabedoria e da retidão.
Algumas passagens de Eclesiastes parecem contradizer outras do própro
Livro e do Antigo
Testamento. Para resolver essas
contradições sugere-se ler o livro como um registro da missão de Salomão:
os julgamentos do texto são provisórios e é apenas na conclusão que o veredito
final é declarado (caps. 11 a 12:7).
Fatos Científicos em Eclesiastes
Há duas passagens em Eclesiastes que remetem ao ciclo da água:
Eclesiastes 1:7 : ''Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche;
ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr''.
Eclesiastes 11:3 cita o ciclo hidrológico mais claramente:
''Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra”. O ciclo
hidrológico só foi compreendido no século 17.
Eclesiastes 1:6 fala das leis meteorológicas, explicando o
movimento do vento pela terra ''“O vento vai para o sul, e faz o seu giro para
o norte; continuamente vai girando, e volta fazendo os seus circuitos”.
Influência na literatura ocidental
Eclesiastes teve uma profunda influência na literatura ocidental. O novelista americano Thomas
Wolfe nos diz que “aquele livro
parece-me ser o mais nobre, o mais sábio e a mais poderosa expressão da vida do
homem sobre a terra — e também a maior das flores da poesia, eloquência e
verdade.”
Machado de Assis, grande leitor do Eclesiastes, sofreu influencia dele na
sua obra, como por exemplo, Memórias Póstumas de Brás Cubas, epopéia da tolice humana, a sátira da nossa ilusão, feita por um
defunto completamente desenganado de tudo. A vida é boa, mas com a
condição de não a levarmoss muito a sério.
O Livro da Lei no REAA e Eclesiastes
O Capítulo 12 é o que nos interessa particularmente. Salomão já
idoso, encerra suas conclusões sobre a vida.
Nos capítulos anteriores vemos alguém experiente falando sobre tudo o
que a sua alma pôde perceber. No Capítulo final, ele nos aconselha a buscar o
GADU enquanto ainda podemos, antes que chegue a morte e não tenhamos essa
oportunidade.
São lidos no momento de Abertura do Livro da Lei, no REAA, Gr. de
Mestre. tradicionalmente, os Versículos 1 e 7.
"12:1 Lembra-te também do teu Criador nos dias
da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais
venhas a dizer: não tenho neles contentamento;
12:7 E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o
deu.
Para a perfeita a compreensão da Leitura, é necessário nos reportarmos
aos versículos 1 a 8, onde, claramente, Salomão nos alerta para a brevidade e
inconstância da vida.
"12:1 Lembra-te também do teu Criador nos dias
da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais
venhas a dizer: não tenho neles contentamento;
12:2 Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e
tornem a vir as nuvens depois da chuva;
12:3 No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os
homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os
que olham pelas janelas;
12:4 E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura,
e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.
12:5 Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no
caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o
apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão
rodeando pela praça;
12:6 Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e
se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,
12:7 E o pó volte à terra, como o era, e o espírito
volte a Deus, que o deu.
12:8 Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
PASSAMOS À ANÁLISE DOS VERSÍCULOS:
"12:1 Lembra-te também do teu Criador nos dias
da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais
venhas a dizer: não tenho neles contentamento
Salomão quer nos dizer que é na mocidade que a força e a resistência são
maiores. Salomão nos aconselha a usar a energia a serviço do GADU. Ele
contrasta a mocidade com a velhice. Quando envelhecemos, a força diminui.
Fazemos menos, mas as dores aumentam. Os desejos e esperanças da mocidade já
passaram. É frustrante perder o vigor que tínhamos, especialmente com a
sabedoria acumulada ao longo da vida.
12:2 Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a
lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva;
As fontes de luz “o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas” é o
chegar da idade e os olhos não podem contemplar as maravilhas da criação. As
imagens verbais nos fazem imaginar o que acontece quando a visão começa a
enfraquecer.
Os versículos 3-6 listam as enfermidades que vão nos
acometendo à medida que envelhecemos:
12.3 No dia em que tremerem os guardas da
casa, e se curvarem os homens fortes, e cessarem os moedores por já serem
poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas;
A casa representa o corpo que envelhece, e os guardas são
os braços e as pernas que se curvam pela fragilidade, e não se confia na
sustentação dos joelhos.
A expressão cessarem os moedores alude aos dentes, cada vez mais
raros e fracos, não conseguem mais mastigar a comida como antes.
Por fim, quando se escurecerem os que olham pelas janelas,
novamente é referencia aos olhos quando se começa a perder a visão.
12:4 E as portas da rua se fecharem por causa do
baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as vozes da
música se abaterem.
As portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura,
nos fala da boca e das cordas vocais que, com a idade, perdem a força, e a voz
pode perder o timbre e enfraquecer.
O “baixo ruído da moedura” ilustra o pouco ou nenhum barulho
feito ao mastigar alimentos, depois da perda ou do enfraquecimento dos dentes.
“E se levantar à voz das aves”, significa ter menos sono e
acordar cedo conforme envelhecemos.
“E todas as vozes da música se abaterem” é uma referência às
cordas vocais e também a audição e a incapacidade de nos deleitarmos com a
música.
12:5 Como também quando temerem o que é alto, e
houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um
peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os
pranteadores andarão rodeando pela praça;
A frase “temerem o que está no alto” se reporta as coisas banais
do cotidiano que passaram a ser ameaçadoras.
O “florescer a amendoeira”, é o branquear o cabelo.
Quando o gafanhoto for um peso se refere ao passo claudicante do
idoso que caminha apoiado em uma bengala.
Quanto ao ato de perecer o apetite, é entendido como a diminuição
do desejo sexual.
E vem à morte e o pranto, com a ida para a casa eterna.
12:6 Antes que se rompa o cordão de prata, e se
quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a
roda junto ao poço,
O cordão de prata, o copo de ouro, o cântaro e a roda simbolizam a
preciosidade e da fragilidade de toda a vida.
O cordão de prata se refere à coluna vertebral. O copo de ouro,
ao cérebro.
O despedaçar do cântaro junto a fonte é uma alusão a um coração
falho.
O sistema de veias e artérias que se difundem a partir do coração pode
ter parecido as traves de uma roda, por isso a frase “se quebre a roda
junto ao poço”.
12:7 E o pó volte à terra, como o era, e o espírito
volte a Deus, que o deu.
As palavras que claramente se referem
ao destino único de todos os homens, e o espírito voltará a Deus que o
deu, em alusão a Genesis
12:8 Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é
vaidade.
Como a Maçonaria nos ensina, o espírito prevalece sobre a matéria.
Excluindo este esforço, este combate pela prevalência do espírito sobre a
matéria, tudo é vaidade, nada mais que vaidade, tudo é vazio, tudo e fugaz.
Como diz o Rei Salomão.
Meus Irmãos:
A leitura desse trecho do Livro da Lei na abertura dos trabalhos, tem o
intuito de nos alertar e nos lembrar de conceitos expostos em outros graus,
expondo quão incerto é nosso futuro, sendo fundamental desfrutar e viver
corretamente o presente.
O Livro de Eclesiastes nos remete à Câmara de Reflexões, onde
vemos “se queres bem empregar a vida, pensa na morte” (Ritual, 1o. grau
pág 195), ou à Taça Sagrada, quando o candidato é orientado que o “homem
sábio e justo deve gozar os prazeres da vida com moderação”(Ritual 1º grau, pág
216).
Eclesiastes também faz o Mestre Maçom realizar uma análise filosófica
do Tempo, desmembrando a noção de tempo, como se lê em “Confissões”,
Agostinho de Hiponna, que argumenta: como o futuro ainda não existe e o passado
já deixou de existir, nosso foco deve ser no presente, no momento em que
vivemos.
Para finalizar, lembro de algumas
reflexões dirigidas a alguns Irmãos, trazendo o pensamento do Ir:.Márcio dos
Santos Gomes, membro da Academia Mineira Maçônica de Letras.
Alguns Irmãos sentem que,
irremediavelmente chegamos a um momento da vida maçônica em que a deficiência
da força e do vigor da juventude colhe suas consequências. Já não somos
requisitados e as contribuições até então realizadas, às vezes, deixam de ser
reconhecidas. No nosso entorno, as coisas começam a ficar diferentes.
Já não vemos mais aqueles diletos
irmãos que valorizavam a nos acompanhavam e se empenharam na senda maçônica e,
hoje, repousam no Oriente Eterno.
Novos irmãos, novas energias. Os
valores, os fundamentos, continuam os mesmos, mas com novas roupagens e
leituras mais “atualizadas”.
É claro que a idade costuma comprometer
capacidades cognitivas como memória e aprendizagem.
Mas outras áreas compensam:
experiência, conhecimento, liderança, colaboração, comunicação oral e escrita
refinada.
Podemos ser mais lentos ao lidar com
telas, dispositivos eletrônicos e redes sociais. Estar conectado tem outro
sentido. Ser controlado por um algoritmo é assustador. Linkedin? Meu
Deus!!!
Porém, vivências podem viabilizar
soluções e contornar os riscos. Não se pode avaliar competências e capacidade
pelos aniversários acumulados. Temos convicção de que tempo de vida e na Ordem
Maçônica não põe mesa, a travessia sim.
Agora é o momento de colher o que
plantamos junto aos nossos familiares e amigos, aqueles a quem tornamos felizes
durante nossa caminhada.
É preciso que fique bem claro: idoso é
aquele que tem muitos anos e velho aquele que acha que sabe tudo.
Então, meus Irmãos, nada de dramas,
lamúrias ou rabugice.
O que importa é uma vivência que nos
permita reconhecer e valorizar nossos acertos, e aprendermos, ainda, com os
erros cometidos. O prazer é olhar para trás e contemplar o caminho que
edificamos.
Assim, poderemos vislumbrar que agora é
o momento de colher o que plantamos durante nossa caminhada. Precisamos ter
clareza de propósitos para encarar esse estágio onde o futuro talvez não seja
mesmo onde pensamos que estamos.
Diz o (Talmude)
“Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida; para o sábio, é a
época da colheita”
Bibliografia:
1.
Agostinho, A Cidade de Deus The
Book XX. Accessed 2015-06-28.
2.
São Jerônimo, Comentário sobre Eclesiastes.
3.
São Tomás de Aquino, Summa Theologica.
4.
Eliane Fernanda Cunha Ferreira. "O
Livro de Cabeceira de Machado de Assis: O Eclesiastes". Acesso:
9 de agosto, 2010.
5.
LIRA, Jorge Buarque – “As vigas mestras da Maçonaria” – Editora Aurora
Ltda – 3a Edição – 1968 – págs. 213 a 218.
6.
CORTEZ, Joaquim Roberto Pinto – “A Simbologia na Maçonaria”- artigo – Revista
“A TROLHA”- No 141 - Ano XXVIII – Junho de 1998 – págs. 30 a 32. .
7.
BELZ, Rodolpho – “Quando Tudo Falha...” - Editora Adventista Casa
Publicadora Brasileira, 8a Edição – 1984 – Santo André – São Paulo – SP – págs.
111 e 112.
8.
NOVO TESTAMENTO VIVO - "O mais importante é o Amor" - Liga
Bíblica Mundial - 1991 - Editora Mundo Cristão - SP.
9.
A BÍBLIA SAGRADA - Tradução de João Ferreira de Almeida – Editora
Imprensa Bíblica Brasileira - 1976 - RJ. Denizart Silveira de Oliveira Filho
Loja Igualdade No 93 - GLMERJ
10. Ricardo Cesar Martins
CIM 269.775 24 de setembro de 2017 E.V
11. https://reinaldotrabalhosmaconicos.wordpress.com/2017/06/15/camara-de-reflexao-2/
12. https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2013/04/eclesiastes-12-significado-explicacao.html
13. https://www.jesuseabiblia.com/biblia-de-estudo-online/eclesiastes-12-estudo/
14. http://systri.com.br/blog/maconaria-2/maconaria-e-o-livro-de-eclesiastes/Honório
Sampaio Menezes, 33º, REAA, Loja Baden-Powell 185, GLMERGS, Porto Alegre, RS,
Brasil.
15. https://focoartereal.blogspot.com/2020/08/conjecturas-de-um-macom-idoso.html/Márcio
dos Santos Gomes/ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG,