segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Poeta Tradicionalista Léo Ribeiro

 CADA INFÂNCIA COM SEU TEMPO

Léo Ribeiro

Te bombeando, assim, dormindo,

neste quarto decorado,

fico horas ao teu lado

te acariciando e sorrindo.

Meu neto... Que guri lindo!

Passou o tempo soi viejo

foi num upa, num lampejo

mas se a idade me golpeia

meu sangue corre em tuas veias

e ao te olhar me revejo.


Somos de infâncias distintas,

fui um piá interiorano

criado meio haragano

sem adereços, sem tinta.

Trazia presos na cinta.

um revolver de madeira

e um punhal de taquareira

que eu mesmo falquejei.

Estas eram minhas "leis"

nas rusgas de brincadeira.

 

Eu tinha gado de osso,

carro de lomba, tampinhas,

trem de latas de sardinhas

e um bodoque no pescoço.

Um petiço pra ir no poço

buscar água em duas pipas.

Mas que infância bendita,

que vida, que tempo nobre.

Se de patacas foi pobre

de liberdade foi rica.

 

Hoje a infância das crianças

cruza os céus sem bater asas

porque sem sair das casas

andejam de toda trança.

É que lhes veio esta herança

da internet e seus favores.

O mundo, com suas cores,

se vem pra dentro do lar

no botão de um celular,

ou pelos computadores.

 

Não que isto esteja errado,

ao contrário, acho bonito,

copiar, colar um escrito,

games, jogos e outros legados.

No dedilhar de um teclado

de tudo se tem noção.

Mas falta o aperto de mão,

o conversar com as pessoas,

o banhar-se nas lagoas,

os pés nus roçando o chão.

 

Cada infância tem seu tempo,

cada vida a sua história...

Feliz quem traz na memória

belos e ternos momentos.

Não maldigo nem lamento

comparo por comparar...

Outra era, outro lugar,

outras maneiras de afeto,

só te desejo, meu neto,

que não deixes de sonhar.

 

O que me dói de verdade,

ao se falar de infância,

é a humana ignorância

de quem castra a liberdade.

É a escravidão, a maldade,

a exploração em segredo,

os orfanatos, o medo,

a pobreza por destino,

a turba de pequeninos

que não conhecem brinquedo.

 

Infância... tinha que ser

rodeada de coisas boas,

verões de sol e garoa,

sem certezas, só viver.

A infância é um bem querer

que não devia ter fim.

Ao me ver sisudo assim

pergunto as minhas lembranças

aonde andará a criança

que um dia morou em mim?

Um comentário:

  1. Caro Ir.: e confrade Leo Ribeiro: Parabéns pela inspiração neste poema. Também tenho neto e sei como é o sentimento de avô-neto. Obrigado! Um TFA
    Ir.: Valdir Gomes - cadeira 9 da ACADESUL

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