quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Patrono Cadeira nº 30

KARL VON KOSERITZ
Autoria: Imgart Grützmann et alii, 2008
Karl (também Carl ou Carlos) Julius Christian Adalbert Heinrich Ferdinand von Koseritz, filho do barão de Koseritz, nasceu em Dessau, capital do ducado de Anhalt, na Alemanha, a 3 de fevereiro de 1830 e faleceu em Pedras Brancas, município de Porto Alegre/RS, no Brasil, no dia 30 de maio de 1890. 
Koseritz fazia parte de uma geração de intelectuais liberais que saiu da Europa em função da conjuntura a eles desfavorável, após as fracassadas revoluções liberais de 1848 das quais participou na Alemanha. Em 1851, veio para o Brasil, na condição de grumete (marinheiro de graduação inferior), no veleiro Heinrich que transportava parte dos mercenários da Legião Alemã, contratada pelo governo imperial para lutar contra Rosas. No Rio de Janeiro, engajou-se no 2º Regimento de Artilharia da Legião Alemã da qual desertou em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no ano de 1852. Passou a viver na cidade de Pelotas/RS, onde trabalhou como guarda-livros e professor e onde, no ano de 1855, casou-se com Zeferina Maria de Vasconcelos, filha de um estancieiro da localidade, com quem teve quatro filhas. Em Pelotas, também fundou, no ano de 1856, juntamente com seu amigo Telêmaco Bouliech, um colégio para meninos e engajou-se na atividade jornalística, atuando na redação de O Noticiador e criando, em 1858, seu próprio jornal: O Brado do Sul, considerado o primeiro jornal diário da cidade. Koseritz ainda ligou-se aos intelectuais de Pelotas, entre eles os escritores Bernardo Taveira Júnior e Lobo da Costa e envolveu-se na política local, posicionando-se contra os progressistas, membros do partido dominante na cidade, por meio de embates diários na imprensa. Em virtude das consequências de seu envolvimento político, mudou-se para Rio Grande onde atuou na imprensa local, redigindo o jornal O Povo e colaborando no Eco do Sul, e onde fundou um estabelecimento de instrução primária e secundária: o Ateneu Rio-Grandense. Envolvido em conflitos locais e alvo de acusações, mudou-se para Porto Alegre, em 1864, onde se naturalizou em 1865, e onde sua atuação como jornalista na imprensa em língua alemã e portuguesa foi mais significativa e mais influente, encerrando-se com a sua morte em 1890. 
A atuação de Koseritz na imprensa engloba as funções de colaborador, redator e dirigente/redator. Na função de redator, Koseritz trabalhou para os seguintes periódicos: O Povo, de Rio Grande; Jornal do Comércio; A Ordem, folha conservadora; O Mercantil; e A Reforma, órgão do Partido Liberal, todos editados em Porto Alegre. Sua atividade mais significativa nesta área ocorre de 1864 a 1881, época em que esteve à frente da redação do bissemanário Deutsche Zeitung (Folha Alemã), jornal noticioso, criado em 1861, por um grupo de comerciantes alemães de Porto Alegre, então o principal periódico em língua alemã na Província, no qual também divulgou uma grande parte de sua produção intelectual, permitindo a Koseritz, durante vários anos, um acesso expressivo e privilegiado ao público leitor de fala alemã. Além disso, Koseritz ainda foi colaborador dos seguintes jornais: O Noticiador, de Pelotas; Eco do Sul, de Rio Grande; e Sentinela do Sul, de Porto Alegre, bem como dos periódicos literários e culturais Eco do Ultramar que veio a lume em 1876 e Álbum de Domingo, criado em 1878.
A expressividade da atuação de Koseritz na imprensa também se sustenta a partir de sua atividade como criador e editor de periódicos que remonta a Pelotas, onde fundou, em 1858, seu primeiro jornal: O Brado do Sul. Foi, contudo, em Porto Alegre, que este tipo de empreendimento de Koseritz ganhou fôlego, originando os seguintes periódicos: o almanaque Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul (Almanaque popular alemão do Koseritz para a Província Rio Grande do Sul) para o qual contribuiu regularmente com matérias e produções literárias de sua autoria, que circulou de 1874-1918 a 1921-1938; A Acácia, semanário maçom, criado em 1876; o álbum humorístico dominical A Lanterna, criado em 1877; A Gazeta de Porto Alegre, considerada sua maior tribuna política e o mais conhecido veículo de suas idéias, no qual polemizou com Júlio de Castilhos, fundado em 1879; - Koseritz’ deutscher Zeitung (Folha Alemã do Koseritz), mais tarde denominada de Neue Deutsche Zeitung (Nova Folha Alemã) que circulou de 1881-1917 a 1919- 1941; a revista Die Ausstellung (A Exposição) referente à Exposição Alemã-Brasileira, organizada por Koseritz em Porto Alegre, que circulou de 1881 a 1882; O Combate, periódico centrado na difusão dos pressupostos da Escola de Recife, fundado em 1886.
Na imprensa em língua alemã e portuguesa, Koseritz propagava suas convicções político-filosófico, especialmente o ideário liberal, o evolucionismo darwiniano e a filosofia monástica, seu posicionamento anticlerical, antifrancesista e antipositivista, bem como discutia questões centrais da segunda metade do século XIX, entre elas a educação, a participação política dos imigrantes alemães e de seus descendentes, a manutenção da germanidade deste grupo e a sua inserção na sociedade brasileira.
Koseritz ainda destacou-se nas pesquisas etnológicas, considerado um pioneiro neste campo no Rio Grande do Sul. Dedicou-se à reunião de coleções paleontológicas e etnológicas, parte das quais se encontra no Museu Paulista, e ao estudo da poesia popular rio-grandense que ganhou notoriedade, especialmente por meio de sua repercussão na Alemanha e sua aceitação por parte de intelectuais no Brasil, entre eles Sílvio Romero. Koseritz ainda dedicou-se à crítica literária, mantendo contatos e debates com alguns dos mais importantes críticos brasileiros de sua época. Esteve ainda ligado a movimentos literários no Rio Grande do Sul, como foi o caso do naturalismo (César, 1967). Koseritz também se dedicou à produção de obras literárias, em língua portuguesa e em língua alemã, podendo ser considerado um dos primeiros escritores da literatura de expressão alemã no Brasil, literatura essa que teve neste almanaque um de seus primeiros veículos de difusão. (Grützmann, 2004) 
Koseritz ainda atuou no contexto político, social e cultural do século XIX por meio de suas atividades político-partidárias. Foi membro do Partido Conservador e do Partido Liberal no qual esteve ligado especialmente a Silveira Martins. Como representante da região colonial rio-grandense, integrou a Assembleia Provincial de 1883 a 1889. Além disso, esteve ligado à maçonaria – À Grande Loja Provincial São Pedro do Rio Grande do Sul. Koseritz ainda foi tradutor, integrando suas traduções novelas naturalistas de Leopold von Sacher-Masoch, e editor da seguinte obra de Sílvio Romero: A filosofia no Brasil, publicada em Porto Alegre, em 1878.
As atividades de Koseritz ainda abarcam outras áreas. A partir de 1865, desempenhou a função de ajudante e agente tradutor do inspetor geral do Serviço de Povoamento do Solo. Fundou, em 1883, juntamente com o Visconde de Taunay e Dr. Hermann Blumenau, a Sociedade Central de Imigração, destinada a lutar contra imigração chinesa e as formas servis de trabalhos nas fazendas. Organizou a Exposição Alemã-Brasileira, em Porto Alegre, realizada entre 1881 e 1882, com o objetivo de demonstrar as vantagens de um comércio maior entre o Brasil e a Alemanha. Foi ainda representante local da Central Verein für Handelsgeographie (Sociedade Central Geográfica Comercial), de Berlim, e presidente da Deutscher Rechtsschutzverein (Associação Alemã de Proteção Jurídica), em Porto Alegre, na qual atuava como advogado sem ter formação acadêmica para tanto.

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