Ruy
Ramos
Nasceu em Alegrete em 9 de
setembro de 1909; foi advogado, pecuarista, poeta, tradicionalista,
historiador, agente religioso (metodista) e político. Foi prefeito de Alegrete
(1947-50) e deputado federal (1951-55; 1959-62).
Líder trabalhista, ídolo do povo das
periferias, que perfazem o “cinturão de miséria que cerca Alegrete",
segundo suas próprias palavras. Para superar esta situação desenvolveu toda a
sua estratégia política.
Almejava mais escolas, um melhor
atendimento social às crianças pobres, energia elétrica para todos, construção
de uma barragem no Ibirapuitã para minimizar secas e enchentes e, sobretudo, o
beneficiamento das matérias-primas produzidas pelo município na pecuária e
agricultura, para que fossem gerados empregos e renda para os trabalhadores da
região.
São de sua iniciativa o funcionamento
dos extintos Colégio Industrial e a Tritícola, inaugurada por ele para elaborar
farinha de trigo. Apresentou na Câmara dos Deputados um grande projeto nacional
que batizou de “Plano de Valorização Econômica da Fronteira Oeste”, com abrangência
do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, do qual se originou a Sudesul.
O pai de Rui chamava-se Laurindo
Ramos. Na Revolução Federalista de 1893, Laurindo serviu como alferes na 4ª
Brigada comandada pelo general Salvador Pinheiro Machado. Como tenente serviu
no piquete da Divisão do Norte, comandada pelo senador Pinheiro Machado. Na
revolução de 1923, chegou a Major das forças comandadas por Flores da Cunha.
Rui Ramos marcou sua atuação
parlamentar pela defesa da terra e de seus trabalhadores. Foi autor de várias
proposições de grande impacto na área social e agrícola. Era conhecido como
"Tribuno do Rio Grande". Foi dele a iniciativa de levar a Escola
Agrotécnica Federal para Alegrete.
Em 17-09-1952, pleiteou à Secretaria
da Agricultura do Estado a criação de uma escola aos moldes da que o Ministério
da Agricultura mantinha em Pelotas/RS. A antiga Escola Agrotécnica Federal de
Alegrete, criada por iniciativa do então deputado federal Ruy Ramos é hoje o
Instituto Federal
Farroupilha (IFF).
O Centenário de Nascimento de Ruy
Ramos foi comemorado com atividades que fizeram justiça ao grande tribuno que
ele foi. Organizado por uma comissão liderada por Adão Faraco e com apoio da
Prefeitura de Alegrete, os eventos reuniram lideranças de todos os segmentos e políticos
de todos os partidos, com a presença de Cosete Ramos, filha de Ruy e Neytha
Ramos.
No Salão Nobre do Palácio Ruy Ramos,
na Praça Getúlio Vargas, na terçafeira, 08 de setembro de 2009, foi descerrada
uma placa registrando a data e, finalmente, uma fotografia do político cuja própria
Casa leva o nome. Paralelamente, foi inaugurada naquele espaço uma mostra de fotografias
de Ruy Ramos, do acervo do Centro de Pesquisa e Documentação de Alegrete.
O ato aconteceu após os discursos de
Adão Faraco, proponente da homenagem; Afonso Motta, vice-presidente da RBS;
Celeni Viana, representando a Câmara Municipal; e Erasmo Silva, prefeito de
Alegrete.
Na abertura dos trabalhos foi
apresentado o documento em que o político argumentava junto ao secretário de
Agricultura da época, Manoel Vargas, pela necessidade da criação de uma escola
técnica na “Colônia do Passo Novo”.
O então Deputado Federal defendia a idéia
de que esta escola traria um grande impulso para a região e que, em decorrência
disso, derivaria dela a Universidade Rural da Fronteira.
O chefe do Executivo reiterou que
aquela era uma cerimônia repleta de significados. Ao saudar os presentes, entre
eles velhos companheiros de Ruy Ramos, Erasmo lembrou as lutas do grande político
sempre em defesa dos trabalhadores. Ao agradecer as homenagens, Cosete Ramos
foi enfática ao afirmar que Alegrete sempre retribuiu com carinho o muito que
seu pai fez por essa terra.
Desde 2006 a RS-640 passou a ser
denominada de "Rodovia Ruy Ramos"
em toda sua extensão. A estrada liga a
BR-290 nas proximidades de Rosário do Sul, passando por Cacequi, à RS-241, na
localidade de São Rafael, próximo à cidade de São Vicente do Sul.
A veia poética de Rui Ramos e o gosto
pela arte declamatória, à semelhança do seu sobrinho Jayme Caetano Braun,
segundo Vinicius Ribeiro, "teve sua escola no ambiente familiar, mais
precisamente no tronco da família Ramos.
Nas reuniões que ocorriam na fazenda
de seus avós maternos, homens, mulheres e crianças, como forma de
entretenimento, recitavam versos. Nesse jogo educativo, aonde as palavras
formavam quadros mentais, cresciam as crianças...
Desenvolviam uma forma nova de pensar,
pensavam em forma de versos; as rimas iam se agrupando e ficavam armazenadas
nos escaninhos da memória, à espera de ganharem vida".
Ressalte-se que além de poeta
nativista, era um homem à frente de seu tempo e profundamente espiritualizado.
Maçom exemplar, Rui Ramos sempre foi intransigente no que diz respeito às suas
atividades de parlamentar dando sua contribuição à defesa dos direitos e da
igualdade às mulheres em todos os campos, pois à época o sistema lhes era extremamente
preconceituoso.
Procurava firmemente cuidar dos
direitos e das garantias elementares a todos, sobretudo àqueles destituídos de
oportunidades de educação, moradia e trabalho. "Rui Ramos era trabalhista,
antes do Partido Trabalhista", definia Alberto Pasqualini.
Vestia-se muito bem. Usava ternos
escuros impecáveis, gravatas de qualidade superior, camisas invariavelmente
brancas, colarinho alto e punhos longos, com abotoaduras e anel de advogado.
Rui era reconhecido pelo porte ereto, distinta elegância e vaidosa apresentação
pessoal. Nos últimos tempos seus cabelos revoltos começaram a brilhar como a
prata.
Era chamado também de “A garganta de
ouro do Rio Grande”, como sempre anunciado na transmissão dos comícios pela Rádio
Alegrete. Voz potente, grave, terminava a última sílaba com um tom metálico,
marca registrada da maioria dos líderes getulistas.
Este insigne político eternizado pelas
suas ações, de impávido caráter e singular afeição às lides parlamentares,
faleceu tragicamente em um acidente aéreo após decolar de Pelotas, em 20 de
setembro de 1962, juntamente com sua esposa, Nehyta Martins Ramos, professora e
líder metodista. Neste acidente faleceram, também, o prestigiado médico alegretense
Dr. Emílio Zuñeda e o Prof. Francisco Brochado da Rocha, ex-
Presidente do Conselho de Ministros.
No Desfile Farroupilha de 62, faltou o
cavaleiro mítico que sempre encerrava a marcha. Sua presença ficou na lembrança
de quem o viu pela última vez de terno cinza, botas de cano longo e lenço
chimango, a esporear um zaino, o animal resfolegante de faceiro.
Mas... e as Letras? Como diria o
eminente past-Presidente da Academia Maçônica de Letras Paulista, Professor
Erasmo Figueira Chaves:
Letras que por elas aqui estamos?
Letras enfim que constituem palavras, palavras que representam gestos, perfis e
atitudes, expressões, sutilezas, parágrafos, preciosidades oriundas, contudo,
do ser material evolutivo claramente visível, palpável, concreto, mas veículo
poderoso, instrumental, imaterial, transcendente e civilizador, que da perfeita
consciência da primitividade histórica original que o constitui, se torna evolutivamente
a expressão da vontade transcendente da criação.
Letras, sim, letras de humildes
pedreiros construtores de obras materiais, inspiradas, no entanto, nas linhas
ogivais das mãos postas em oração, oração latente, permanente, constante, residente
nos ocultos escaninhos dos neurônios bem computados, cuidadosa e constantemente
alimentados e, na magnificência da sensibilidade aos acordes do bom senso e do
bem comum, na ação esperançosa transcendente e dignificante, expressa nas peças
de arquitetura, obediente à culta inteligência e à razão evolutiva.
As letras e atos maçônicos precisam
estar imunes às influências e contaminações externas de uma sociedade hipócrita,
mas contrariamente precisam e devem significar testemunho cristalino,
transparente e influência eficaz aos costumes deletérios e comportamentos
ruinosos externos, que se observa a todo o momento.
Foi nessa realidade transcendente em
que o nosso ilustre irmão Rui Ramos, "batalhou o bom combate" durante
toda a sua brilhante e significativa existência.
Na atmosfera de corrupção e desastres
políticos e administrativos por que passa a nação, qual o desafio que se nos
apresenta, como representantes das letras maçônicas? Qual o dever ou contribuição
que nos é requerida ou de nós esperada?
Camões, estruturador da nossa
maravilhosa língua portuguesa e que por meio dela ensinou-nos a boa comunicação
oral, e, pela escrita, a elaborarmos nossos trabalhos literários, indignava-se
com a atmosfera reinante na sua época. Assim dizia, em singela e corajosa
redondilha, à época dos descobrimentos, por volta de 1550:
"...Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos,
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Buscando alcançar assim,
O "bem" tão mal ordenado
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que só para mim,
Anda o mundo concertado!...”
Mas... Voltando um pouco para mais
perto de nossos dias...
Lembrando Rui Ramos...
O poema O MOURO DO ALEGRETE, ilustrava
o folder original da sua campanha política de 1958. Foi um dos primeiros poemas
de Jayme Caetano Braun que ganhou grande notoriedade e que terminava assim:
...
E nesta volteada grande
Que em Cinquenta e Oito tem
Sabemos que o Mouro vem
Porque nós vamos volteá-lo
E certos de dar um “palo”
Junto à mangueira da Estância
Esperaremos com ânsia
A voz de pegar o cavalo.
E nós temos a certeza
Que esse Mouro “chacoalhado”
Leviano e casco aparado
De laço atado nos tento,
Cacho quebrado a contento,
Como pra roubar mulata
Será o pingo de mais pata
Na cancha do Parlamento.
OBRIGADO!
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