quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Patrono Cadeira n° 20

Ruy Ramos

Nasceu em Alegrete em 9 de setembro de 1909; foi advogado, pecuarista, poeta, tradicionalista, historiador, agente religioso (metodista) e político. Foi prefeito de Alegrete (1947-50) e deputado federal (1951-55; 1959-62).
Líder trabalhista, ídolo do povo das periferias, que perfazem o “cinturão de miséria que cerca Alegrete", segundo suas próprias palavras. Para superar esta situação desenvolveu toda a sua estratégia política.
Almejava mais escolas, um melhor atendimento social às crianças pobres, energia elétrica para todos, construção de uma barragem no Ibirapuitã para minimizar secas e enchentes e, sobretudo, o beneficiamento das matérias-primas produzidas pelo município na pecuária e agricultura, para que fossem gerados empregos e renda para os trabalhadores da região.
São de sua iniciativa o funcionamento dos extintos Colégio Industrial e a Tritícola, inaugurada por ele para elaborar farinha de trigo. Apresentou na Câmara dos Deputados um grande projeto nacional que batizou de “Plano de Valorização Econômica da Fronteira Oeste”, com abrangência do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, do qual se originou a Sudesul.
O pai de Rui chamava-se Laurindo Ramos. Na Revolução Federalista de 1893, Laurindo serviu como alferes na 4ª Brigada comandada pelo general Salvador Pinheiro Machado. Como tenente serviu no piquete da Divisão do Norte, comandada pelo senador Pinheiro Machado. Na revolução de 1923, chegou a Major das forças comandadas por Flores da Cunha.
Rui Ramos marcou sua atuação parlamentar pela defesa da terra e de seus trabalhadores. Foi autor de várias proposições de grande impacto na área social e agrícola. Era conhecido como "Tribuno do Rio Grande". Foi dele a iniciativa de levar a Escola Agrotécnica Federal para Alegrete.
Em 17-09-1952, pleiteou à Secretaria da Agricultura do Estado a criação de uma escola aos moldes da que o Ministério da Agricultura mantinha em Pelotas/RS. A antiga Escola Agrotécnica Federal de Alegrete, criada por iniciativa do então deputado federal Ruy Ramos é hoje o Instituto Federal
Farroupilha (IFF).
O Centenário de Nascimento de Ruy Ramos foi comemorado com atividades que fizeram justiça ao grande tribuno que ele foi. Organizado por uma comissão liderada por Adão Faraco e com apoio da Prefeitura de Alegrete, os eventos reuniram lideranças de todos os segmentos e políticos de todos os partidos, com a presença de Cosete Ramos, filha de Ruy e Neytha Ramos.
No Salão Nobre do Palácio Ruy Ramos, na Praça Getúlio Vargas, na terçafeira, 08 de setembro de 2009, foi descerrada uma placa registrando a data e, finalmente, uma fotografia do político cuja própria Casa leva o nome. Paralelamente, foi inaugurada naquele espaço uma mostra de fotografias de Ruy Ramos, do acervo do Centro de Pesquisa e Documentação de Alegrete.
O ato aconteceu após os discursos de Adão Faraco, proponente da homenagem; Afonso Motta, vice-presidente da RBS; Celeni Viana, representando a Câmara Municipal; e Erasmo Silva, prefeito de Alegrete.
Na abertura dos trabalhos foi apresentado o documento em que o político argumentava junto ao secretário de Agricultura da época, Manoel Vargas, pela necessidade da criação de uma escola técnica na “Colônia do Passo Novo”.
O então Deputado Federal defendia a idéia de que esta escola traria um grande impulso para a região e que, em decorrência disso, derivaria dela a Universidade Rural da Fronteira.
O chefe do Executivo reiterou que aquela era uma cerimônia repleta de significados. Ao saudar os presentes, entre eles velhos companheiros de Ruy Ramos, Erasmo lembrou as lutas do grande político sempre em defesa dos trabalhadores. Ao agradecer as homenagens, Cosete Ramos foi enfática ao afirmar que Alegrete sempre retribuiu com carinho o muito que seu pai fez por essa terra.
Desde 2006 a RS-640 passou a ser denominada de "Rodovia Ruy Ramos"
em toda sua extensão. A estrada liga a BR-290 nas proximidades de Rosário do Sul, passando por Cacequi, à RS-241, na localidade de São Rafael, próximo à cidade de São Vicente do Sul.
A veia poética de Rui Ramos e o gosto pela arte declamatória, à semelhança do seu sobrinho Jayme Caetano Braun, segundo Vinicius Ribeiro, "teve sua escola no ambiente familiar, mais precisamente no tronco da família Ramos.
Nas reuniões que ocorriam na fazenda de seus avós maternos, homens, mulheres e crianças, como forma de entretenimento, recitavam versos. Nesse jogo educativo, aonde as palavras formavam quadros mentais, cresciam as crianças...
Desenvolviam uma forma nova de pensar, pensavam em forma de versos; as rimas iam se agrupando e ficavam armazenadas nos escaninhos da memória, à espera de ganharem vida".
Ressalte-se que além de poeta nativista, era um homem à frente de seu tempo e profundamente espiritualizado. Maçom exemplar, Rui Ramos sempre foi intransigente no que diz respeito às suas atividades de parlamentar dando sua contribuição à defesa dos direitos e da igualdade às mulheres em todos os campos, pois à época o sistema lhes era extremamente preconceituoso.
Procurava firmemente cuidar dos direitos e das garantias elementares a todos, sobretudo àqueles destituídos de oportunidades de educação, moradia e trabalho. "Rui Ramos era trabalhista, antes do Partido Trabalhista", definia Alberto Pasqualini.
Vestia-se muito bem. Usava ternos escuros impecáveis, gravatas de qualidade superior, camisas invariavelmente brancas, colarinho alto e punhos longos, com abotoaduras e anel de advogado. Rui era reconhecido pelo porte ereto, distinta elegância e vaidosa apresentação pessoal. Nos últimos tempos seus cabelos revoltos começaram a brilhar como a prata.
Era chamado também de “A garganta de ouro do Rio Grande”, como sempre anunciado na transmissão dos comícios pela Rádio Alegrete. Voz potente, grave, terminava a última sílaba com um tom metálico, marca registrada da maioria dos líderes getulistas.
Este insigne político eternizado pelas suas ações, de impávido caráter e singular afeição às lides parlamentares, faleceu tragicamente em um acidente aéreo após decolar de Pelotas, em 20 de setembro de 1962, juntamente com sua esposa, Nehyta Martins Ramos, professora e líder metodista. Neste acidente faleceram, também, o prestigiado médico alegretense Dr. Emílio Zuñeda e o Prof. Francisco Brochado da Rocha, ex-
Presidente do Conselho de Ministros.
No Desfile Farroupilha de 62, faltou o cavaleiro mítico que sempre encerrava a marcha. Sua presença ficou na lembrança de quem o viu pela última vez de terno cinza, botas de cano longo e lenço chimango, a esporear um zaino, o animal resfolegante de faceiro.
Mas... e as Letras? Como diria o eminente past-Presidente da Academia Maçônica de Letras Paulista, Professor Erasmo Figueira Chaves:
Letras que por elas aqui estamos? Letras enfim que constituem palavras, palavras que representam gestos, perfis e atitudes, expressões, sutilezas, parágrafos, preciosidades oriundas, contudo, do ser material evolutivo claramente visível, palpável, concreto, mas veículo poderoso, instrumental, imaterial, transcendente e civilizador, que da perfeita consciência da primitividade histórica original que o constitui, se torna evolutivamente a expressão da vontade transcendente da criação.
Letras, sim, letras de humildes pedreiros construtores de obras materiais, inspiradas, no entanto, nas linhas ogivais das mãos postas em oração, oração latente, permanente, constante, residente nos ocultos escaninhos dos neurônios bem computados, cuidadosa e constantemente alimentados e, na magnificência da sensibilidade aos acordes do bom senso e do bem comum, na ação esperançosa transcendente e dignificante, expressa nas peças de arquitetura, obediente à culta inteligência e à razão evolutiva.
As letras e atos maçônicos precisam estar imunes às influências e contaminações externas de uma sociedade hipócrita, mas contrariamente precisam e devem significar testemunho cristalino, transparente e influência eficaz aos costumes deletérios e comportamentos ruinosos externos, que se observa a todo o momento.
Foi nessa realidade transcendente em que o nosso ilustre irmão Rui Ramos, "batalhou o bom combate" durante toda a sua brilhante e significativa existência.
Na atmosfera de corrupção e desastres políticos e administrativos por que passa a nação, qual o desafio que se nos apresenta, como representantes das letras maçônicas? Qual o dever ou contribuição que nos é requerida ou de nós esperada?
Camões, estruturador da nossa maravilhosa língua portuguesa e que por meio dela ensinou-nos a boa comunicação oral, e, pela escrita, a elaborarmos nossos trabalhos literários, indignava-se com a atmosfera reinante na sua época. Assim dizia, em singela e corajosa redondilha, à época dos descobrimentos, por volta de 1550:

"...Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos,
E para mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Buscando alcançar assim,
O "bem" tão mal ordenado
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que só para mim,
Anda o mundo concertado!...”

Mas... Voltando um pouco para mais perto de nossos dias...
Lembrando Rui Ramos...
O poema O MOURO DO ALEGRETE, ilustrava o folder original da sua campanha política de 1958. Foi um dos primeiros poemas de Jayme Caetano Braun que ganhou grande notoriedade e que terminava assim:
...
E nesta volteada grande
Que em Cinquenta e Oito tem
Sabemos que o Mouro vem
Porque nós vamos volteá-lo
E certos de dar um “palo”
Junto à mangueira da Estância
Esperaremos com ânsia
A voz de pegar o cavalo.
E nós temos a certeza
Que esse Mouro “chacoalhado”
Leviano e casco aparado
De laço atado nos tento,
Cacho quebrado a contento,
Como pra roubar mulata
Será o pingo de mais pata
Na cancha do Parlamento.
OBRIGADO!

Por: Horácio Acácio Augusto, Cadeira nº 20

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