Francisco Lobo da Costa
Nascido na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, no dia 12 de julho de
1853, Francisco Lobo da Costa é considerado um dos principais escritores do
século XIX, conforme atestam autores e críticos.
Seus genitores eram o catarinense
Antônio Cardoso da Costa e Jacinta Júlia Lobo da Costa, baiana, que por ocasião do término da Revolução
Farroupilha transferiram-se para Pelotas e uniram-se em sociedade com um irmão
abrindo um estabelecimento comercial, conforme nos relata a Professora Ângela
Sapper em seu livro – Lobo da Costa – Obra Completa. Mais adiante, com a guerra
do Paraguai, um clima de civismo envolve a Princesa do Sul e seu pai inclui
como instrutor da Guarda Nacional influenciando o pequeno Francisco que apesar
de seus doze anos de idade entusiasma-se com a causa bélica enaltecendo o
sucesso da Armada Nacional em versos publicados no jornal Eco do Sul, da cidade de Rio
Grande.
Com os negócios
da família não indo bem, Lobo da Costa emprega-se em um cartório e mais adiante
numa agência de telégrafo onde pela falta de movimento em sua seção punha-se a
ler e escrever versos que publicava na imprensa. Contemporâneo de Fernando
Osório, Aquiles Porto Alegre e Bernardo Taveira Junior, teve contato com os
mesmos através do jornal literário A
Arcádia onde atuavam como
colaboradores. Em 1969 passou a dedicar-se exclusivamente as letras e seguindo
sua vocação fundou o jornal Castália que teve pouca
duração.
Comungando de
ideais abolicionistas e republicano estabeleceu com os jovens políticos da
época, entre eles Fernando Osório, duradoura amizade, o que proporcionou-lhe
freqüentar a sociedade e encantá-la com seus versos e recitações. Nesta época
conheceu Saturnino Epaminondas de Arruda com quem atou laços de amizade e
passou a freqüentar sua residência onde se reunia a sociedade elegante nos
finais de semana. Lá,
encontrava-se com Saturnina Elvira, irmã do amigo, por quem enamorou-se e sendo
correspondido transformou-a em sua musa inspiradora. Em 1872 transferiu-se para
Rio Grande e no jornal Eco do Sul onde trabalhava, imprimiu e editou o livro de
poemas Rosas Pálidas e o romance Espinhos d’alma, além
disso escreveu para o teatro e foi colaborador de diversos jornais até conhecer
Múcio Teixeira com quem fez amizade e retornou a Pelotas. No mesmo ano, a
convite de amigos visitou e hospedou-se na Estância de Molhos, no Uruguai, onde
certamente encontrou com Elvira. Por sentir que carecia de uma formação
cultural mais consistente para ascender socialmente mudou-se para São Paulo,
onde ficou um ano, a fim de tentar a faculdade de Direito. Durante este período
publicou o livro Lucubrações,
por intermédio do poeta gaúcho Carlos Ferreira, residente em Campinas. Não
logrando êxito no curso preparatório para a faculdade e tendo sua saúde abalada
devido a sua vida desregrada na companhia de outros estudantes, retorna a
Pelotas passando antes por Santa Catarina onde se recuperou de sua enfermidade
na casa de seu tio José Cardoso Costa. Sua chegada a Desterro (hoje
Florianópolis), já reconhecido como poeta, foi homenageada pela Associação
Musical Trajano e, agradecido, publicou em O
Conservador sua emoção. (foi ainda O Conservador que registrou através de publicações
de poemas e textos sua estada de alguns meses em Santa Catarina).
Já recuperado da
enfermidade, adia sua volta a Pelotas para ocupar temporariamente cargo no
gabinete do presidente da Província e após, segue viagem. Com sua chegada a Pelotas reinicia
suas diligências na imprensa e mantêm sua produção literária participando regularmente de
atividades culturais. Em 1875 publica um de seus mais notáveis poemas: Aquele Ranchinho.
Dedica-o ao amigo Bernardo Taveira Junior a quem chama de “inspirado poeta
rio-grandense”. Ao longo do ano seguinte trabalhou no Jornal do Comércio, de Pelotas,
atuou em O Despertador e fundou A Lanterna e O
Trovador, ambos de vida efêmera.
Embora sua
atividade artística produtivamente se desenvolvia, sua saúde arruinava-se, pois
há algum tempo sua entrega ao alcoolismo destruía qualquer perspectiva de um
futuro saudável e de uma vida efetiva satisfatória. Seu vício proporcionou o
rompimento definitivo com sua amada Elvira, filha de família da alta sociedade
e decretou grandes reflexos em sua temática que agora figurava solidão e
tristeza oriundas de um poeta descrente e revoltado, modelo vivo do poeta
romântico em conflito com a sociedade e consigo mesmo. Exceto a poesia nada o
prendia por muito tempo e nos últimos doze anos de vida mudou frequentemente de
cidade e emprego.
Mas, em meio a
infortúnios ainda havia lugar para alegrias e uma delas foi proporcionada pelos
cadetes da Escola Militar que fundaram a sociedade Fênix Literária e, conforme
relata a autora, “elegeram para sócios honorários da novel instituição as
maiores sumidades das Letras Nacionais”. Em Pelotas, os agraciados foram
Bernardo Taveira Junior e Francisco Lobo da Costa. Era, talvez, o primeiro
título que lhe outorgavam em vida; e, provavelmente, o último. O pensamento da
morte leva-o a escrever Fantasias
de um morto, em prosa, revelando-se nesse gênero, tão seguro de si
quanto no terreno da rima. Em setembro de 1879 Lobo da Costa, em ato
imprevisto, casa-se em Jaguarão com Carolina Augusta Carnal, jovem de 17 anos,
natural de Rio Grande. Dois meses depois Lobo se encontra muito doente e em
estado de penúria. Seu casamento do qual nasceu à filha Amanda resultava num
grande infortúnio. Mesmo assim, sua poesia continuava a jorrar tendo registros
em páginas literárias como O Cabrion e O Lábaro. Já separado da esposa
passa algum tempo em Arroio Grande, Porto Alegre, Dom Pedrito, Bagé e
finalmente retorna a Pelotas. Muito doente e sem poder trabalhar é recolhido à
Santa Casa para tratar-se e a partir de 1886 não mais peregrinou, fixando-se em
Pelotas dominado pelo vício do álcool e percorrendo casas de amigos e tabernas
buscando uma bebida. Em 1887 foi hospitalizado várias vezes preocupando a
sociedade que se mobilizou para ajudá-lo. O
Grêmio dos Lunáticos, associação de jovens intelectuais elaborou o opúsculo Charitas cuja venda reverteu em
prol do poeta.
Mesmo no
hospital, Lobo continuava inspirado na produção de versos e, escreve a autora,
recebia diversos amigos e simpatizantes que vinham prestar justas homenagens ao
mais popular dos poetas gaúchos. Permaneceu no hospital entre fins de 1887 até
a metade de 1888 quando na manhã de 18 de junho ganhou a rua e saiu sem destino
certo com o restante da quantia conseguida com a publicação de Charitas,
dirigindo-se a taberna mais próxima para beber e, certamente o fez. Durante a
tarde foi visto nas imediações da Santa Casa e reconhecido por algumas pessoas
que avisaram o Delegado e seus familiares, foi procurado e não mais encontrado
até o trágico acontecimento. O frio e as intempéries da noite, cumulados com o
despojo de Francisco por vândalos que o assaltaram, selaram seu destino.
Na manhã
seguinte um carroceiro encontrou seu corpo rijo e inerte, caído numa sarjeta
próximo a Rua Santa Cruz. Após seu desencarne, ainda foram publicados Auras do Sul, Flores do Campo e
Dispersas, obras
compiladas por Francisco de Paula Pires que dedicou-se a este resgate literário
até 1915, ano em que faleceu.
Conforme relata
Mozart Victor Russomano em seu artigo A Obra de Lobo da Costa, publicado na
Revista Província de São Pedro em 1952, Lobo da Costa foi o primeiro poeta
verdadeiramente grande que pôde ser verdadeiramente popular. Tal afirmação traz
a corroboração da pesquisa feita pela Professora Doutora Ângela Treptow Sapper,
que datando de abril de 2.000 sob o título – Lobo da Costa e sua Sobrevivência
Literária – demonstra que ainda hoje sua verve popular ainda reside no
conhecimento pelotense e gaúcho. Para
Alcides Maya, só Castro Alves o superou no momento condoreiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário