Francisco Antônio
Vieira Caldas Júnior
O jornalista Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior
fundou o próprio jornal, o Correio do Povo, em 1º de outubro de 1895. Tinha 26
anos e um objetivo: publicar o primeiro diário gaúcho apartidário, independente
e voltado somente aos interesses dos leitores e da comunidade.
Não seria nem de
um lado, nem do outro, não defenderia nem o branco dos chimangos nem o vermelho
dos maragatos. Seria o 'róseo', como foi conhecido por muitos anos, e não
apenas pela cor rosa do papel no qual chegou a ser impresso. Caldas Júnior
levava esse princípio tão a sério que o expressou na capa na edição de número
1: 'Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados
indivíduos de uma facção'.
Não era pouca coisa para uma época em que todos os
jornais representavam alguma corrente política, religiosa ou filosófica. A
Federação era positivista e defendia o governo do presidente do Estado, Júlio
de Castilhos. O Jornal do Comércio nutria clara simpatia pelo Partido Liberal.
O Deutsche Volksblatt, editado em alemão, era católico. Somente na Capital, o
jornal de Caldas Júnior disputava mercado com outros sete diários.
A primeira edição do Correio do Povo saiu com quatro
páginas e 2 mil exemplares. Pouco mais de três anos depois, já eram 4,5 mil
exemplares, o que levou Caldas Júnior a imprimir, no cabeçalho do jornal,
aquele que se tornaria o seu mais famoso slogan: 'O jornal de maior circulação
e tiragem do Rio Grande do Sul'. A busca pelos melhores profissionais e a
renovação do parque gráfico (foram quatro impressoras em 15 anos) foram a base
para o sucesso do negócio e uma obsessão para Caldas Júnior durante os 18 anos
em que permaneceu à frente da redação.
A morte prematura do fundador, em 1913, lançou o
Correio do Povo em inúmeras dificuldades, que só terminaram em 1935, quando a
direção foi assumida em definitivo por um filho do fundador: Breno Alcaraz
Caldas. Ele permaneceu no cargo por mais de 50 anos e, nas décadas de 40, 50 e
60, consolidou a liderança do Correio do Povo entre os diários do Estado.
O Rio Grande do Sul passou a se informar pelo Correio,
e o jornal assumiu o papel que cumpre até hoje: o de representar os interesses
do Estado e da população gaúcha. Esse comprometimento se mostrava também no
engajamento em campanhas sociais, como a que levou à construção do Monumento ao
Expedicionário, ou de apoio a entidades beneficentes. Os gaúchos demonstravam
sua confiança no jornal repetindo a frase que se tornaria um slogan não oficial:
'Se deu no Correio, é verdade'.
E, se estava ao lado dos gaúchos, era também nos
momentos difíceis. Como na enchente que alagou o Centro da Capital em 1941 e
que motivou, anos depois, a construção do muro da Mauá. O Guaíba avançou até a
Rua da Praia, alagando as oficinas da Caldas Júnior. Foram oito dias em que o
jornal não circulou, a partir de 5 de maio. E, quando alguém na cidade queria
dimensionar a tragédia, a frase favorita era: 'Até o Correio do Povo parou...'.
Ou nos mais duros tempos da censura, nos anos 70. Em
19 de setembro de 1972, a publicação de um telex enviado pelo diretor de O
Estado de S. Paulo, Rui Mesquita, ao ministro da Justiça motivou a apreensão do
jornal. Mesquita dizia que 'sentia vergonha de ser brasileiro' ao ficar sabendo
que o Estadão estava proibido de publicar notícias ou comentários contrários ao
regime. O Correio do Povo do dia 20, com a matéria, nunca circulou. Saiu das
rotativas direto para os caminhões da Polícia Federal. A edição teria se
perdido se a corajosa chefe do Arquivo de Jornais da Caldas Júnior, Francisca
Espinosa, não tivesse descido ao setor de impressão e recolhido 20 exemplares
sem ser percebida pelos agentes. Hoje estes poucos exemplares são algumas das
jóias da completíssima e bem cuidada coleção organizada com dedicação por
Francisca.
http://www.cpovo.net/jornal/especiais/cpespecial/html/VARIEDAD.HTM
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