sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Patrono Cadeira nº 08

Hipólito José da Costa

Nasceu em 1774, na Colônia do Sacramento. Essa faixa de terra situada às margens do Rio da Prata, defronte a Buenos Aires, foi uma zona de tensão, pertencendo, durante muito tempo, ora a Portugal, ora a Espanha. 
Em 1777, três anos após o nascimento de Hipólito, era assinado o Tratado de Santo Hildefonso, pelo qual os portugueses deixavam definitivamente aquela região. O militar Félix da Costa Furtado, pai de Hipólito, transferiu-se, então, para o Rio Grande do Sul, onde o menino viveu a infância e fez seus primeiros estudos.
Aos 19 anos o Hipólito matriculou-se na Universidade de Coimbra, vindo a graduar-se em Direito e Filosofia. Hipólito foi mais um dos jovens estudantes brasileiros a gozar da especial proteção do então Secretário dos Negócios e do Ultramar, D. Rodrigo de Souza Coutinho. Logo após formar-se, aos 24 anos, ele foi enviado para os recém-independentes Estados Unidos da América como servidor régio. Sua missão no Novo Mundo revestia-se de caráter simultaneamente econômico e científico. Ele deveria obter informações sobre as culturas e as técnicas de cultivo agrícolas, especialmente do tabaco e do linho cânhamo, observar instrumentos e técnicas de manufatura, bem como obter sementes e mudas de espécimes vegetais americanos para serem aclimatadas nas colônias portuguesas. Entre estas, a cultura da planta mais propícia ao cultivo da cochonilha, muito requisitada na Europa como matéria prima para o fabrico de tintas.
Hipólito partiu de Lisboa em 1798 e, durante cerca de dois anos, viajou pelos Estados Unidos, de norte a sul, percorrendo vários estados e chegando até o México. O diário de suas viagens, publicado sob o nome de Diário de viagem à Filadélfia, revela o olhar multifacetado com que esse viajante ilustrado brasileiro se debruçou sobre a sociedade americana. Descreveu as cidades por onde passou e os hábitos e costumes de seus habitantes, transitou pelos círculos diplomáticos e frequentou vários eventos socioculturais, visitou presídios e universidades e manteve contato com estudiosos das ciências naturais. Um grande surto de febre amarela, ocorrido na região de Washington, alertou Hipólito para as causas da doença e as condições sanitárias da cidade. Hipólito interessou-se também pelo funcionamento das instituições americanas, sobre as quais procurava informar D. Rodrigo enviando-lhe folhetos e recortes de jornais.
Durante sua estada na América do Norte, as numerosas lojas maçônicas chamaram sua atenção e ele acabou por filiar-se à sociedade na Filadélfia.
Voltando a Portugal, Hipólito passou a integrar o grupo de brasileiros que trabalhava na Tipografia do Arco do Cego, onde realizou trabalhos de tradução. Quando o Arco do Cego foi extinto e seu acervo integrado à Imprensa Régia, Hipólito, juntamente com Mariano da Conceição Veloso, foi nomeado membro da Junta que passou a gerir a instituição.
Em 1802, D. Rodrigo enviou Hipólito a Londres a fim de adquirir livros para a Biblioteca Pública e maquinário para a Imprensa Régia. Na Inglaterra, ele acabaria por envolver-se com as lojas maçônicas inglesas, junto às quais procurava obter proteção para suas congêneres portuguesas. As notícias das atividades de Hipólito junto à maçonaria inglesa logo chegaram a Portugal, onde a maçonaria era criminalizada. Embora avisado de que seria preso ao por os pés em Lisboa, Hipólito voltou. Foi encarcerado e respondeu a processo junto ao tribunal da Inquisição. Acabou por fugir da prisão, voltando à Inglaterra onde passaria o resto da vida. Nos primeiros três anos em Londres, Hipólito deu aulas de português, fez algumas traduções e colaborou com autores ingleses na edição de uma História de Portugal.
De 1808 a 1822, Hipólito editou, em Londres, o jornal Correio Brasiliense. Os estudos bibliográficos sobre este brasileiro ilustrado têm privilegiado esta fase de sua vida em que atua como jornalista e crítico combativo das relações Portugal-Brasil.
Contudo, a trajetória de Hipólito foi muito mais complexa do que a intensa atividade jornalística permite perceber. Filho da elite econômica da colônia e membro da geração ilustrada dos setecentos portugueses, Hipólito foi um dos protegidos de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que lhe confiou à missão estratégica americana, deu-lhe emprego ao voltar e proteção ao ser perseguido. Durante todo o período anterior a sua ida para Londres, portanto, o jovem intelectual, como a maior parte dos da sua geração, estava mais voltado à colaborar na consolidação do império português do que interessado em ideias independentistas.

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